segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

INSONIA DE AVÔ

Pelas cinco horas da madrugada
abordam-me as saudades de Ti,
culpado é o teu maravilhoso sorriso
e a paz com que me premeias
quando Te olho
e Te aconchego em meu colo!

A alegria de uma esfusiante vida
preenche-Te o presente,
electrisa todos os nossos sentidos,
e põe meus sentimentos à flor da pele,
contagiando meus espaços cerebrais
meio adormecidos,
tranquilizando toda a minha irreverência.

És o engodo há tanto esperado
para o anzol inerte das nossas vidas,
e assim voltou a jovialidade,
a enorme ternura que nos alenta,
e um eterno romance de amôr
que fervilha e tanto nos acalenta.

Vives afincadamente teus oito meses,
já gatinhas determinada
e com invulgar dinâmica e estética;
ràpidamente a marcha chegará
e virão algumas quedas sem rede
que demasiado sobressalto criarão!

Num futuro breve balbuciarás
as primeiras palavras e as mais queridas,
e um pouco mais tardiamente
a escola contigo partilhará
os primeiros encontros e desencontros,
e aprenderás por certo a louvar a Vida!

Por ora apenas Te vou observando
embebecido pela mais doce ternura,
petrificado por tamanho encanto:
- és a magia da natureza humana!

Vive como um alevim o Teu presente
no recôndito mar sempre contente;
breve o futuro se porá em teu caminho
e serás ave, mulher-guerreira, toda carinho!

( Poema dedicado a minha neta Sofia, 03-11-2010)

António Luíz, in "Poesia pragmática: Poemas de Vidas",
a publicar em 2010/2011 ).

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

FIM DA ILUSÃO

A morte acontecera e
na Eucaristia de corpo presente
faz-se o prelúdio
(com sons de violino pungente),
da entrega à terra do corpo e da alma
já sucumbidos, já sem ilusão.
Após 23 anos de sofrimento
em quase total alectuamento
pós acidente trombótico cerebral...
...acabára-se a ilusão!
...............................
Agora, a fatal dicotomia fragmentária:
- o corpo descerá à terra
e a alma voará para a vida eterna!
...............................
Talvez que para os eleitos
a ilusão não termine naquele momento
mas por certo longinquamente,
pois que a morte à vida pertence
e esta se comporta ad eternum
como doença assaz incurável
que um dia a própria morte vencerá.
Obviamente que a esta condenação
jamais alguém fugirá!
...............................
Aceitemos pois sem alternativa
que não há mais ilusões
além da fatídica morte.
Homenageemos capazmente a vida
- e assim se fez naquela noite -
se quisermos adiar
em total consciência
o fim da nossa vital ilusão!

( Antonio Luíz, Outubro-2010 ;
in "Poesia pragmática: poemas de vidas", a editar em 2010/2011)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

REPOUSO NO CAIS DO FREIXO

Gozo a esplanada do Freixo
onde sacio fome e sede,
mesmo ao lado da ponte guardiã;
nela passam objectos móveis
carregados de desejos
e também de ilusões...
..........................
Para lá da ponte
um sol portentoso
reflecte-se nas águas do rio,
criando foco de luz imensa:
- o Douro ilumina e aquece
este momento de fim de tarde
de uma terça feira,
após tarefa clínica em Resende,
curta mas assaz prazenteira;
Passa um barco
lotado de viajantes,
e dali a pouco
no frenesim do lanche retemperador,
apenas resta um ponto
lá longe, no fim do rio
que o sol ferindo os olhos
mal permite disfrutar!
.............................
Nesta atraente esplanada
a música de fundo continua
suave, mas bem batida,
contrariamente a meu coração
tranquilo, bradicárdico...
Observo um yate imóvel
um pouco à minha direita
mas que em nada me seduz;
...sobre moderna mesa
de tampo negro,
contrastando o branco das cadeiras,
esvazio paulatinamente
um copo de cerveja
a que hoje não soube resistir!

(Antonio Luíz, 07-09-2010 )

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CAOS



C A O S

( A propósito duma pintura de Raul Cardoso )




Em plataforma distal
deste intenso e sublime status,
existe hirto um vulto
estupefacto e passivo,
mantendo cordão umbilical
a tão possante mas aprazível
emaranhado de traços e cores;

Mas a harmonia cola-nos à tela....

Sigo linhas curvas e rectas,
espaços variegados com surdas vidas
aglomeradas, que gemem,
na lufa-lufa do ditame quotidiano,
espremidas na pressão dos desejos
e anseios em auto-desespero;
outros espaços não enxergo
mas sinto-os no âmago dos pincéis
e onde capto pensamentos velozes
em busca de libertação,
tentando a fuga às convulsões febris
de uma luta vital diária,
quantas vezes crispada e desumana,
que fatalmente nos distanciam
do humanismo e da glória,
mergulhando-nos
e sucumbindo-nos na auto-exortação
que tolamente nos empurra
para a vaidade e autodestruição!
Há quadrados triangulóides
e triângulos quase quadriformes,
mas também vejo formas losângicas
com cores de anjo, e também de luto!

Nesta amalgama de conflito e ilusão,
vejo barcos de rio, e talvez navios
a quererem in extremis cruzar
Louca e teimosamente
águas revoltas de outros mares.....

Fantasio aeronaves,
seguramente um dirigível
aguardando movimento proximal,
para fuga talvez tresloucada
a tão consciente imobilidade....
Não vislumbro traços de animais
ou sequer sinais divinos;

Quando o Caos assim nos domina,
temos ali as cores da esperança
e dum fluxo vivo e arrojado,
colorido de particulas de arco-íris
que se adivinha ou
se deseja ver nesta cativante tela
Que nos alimenta os sentidos
e nos afeiçoará às batalhas humanas,
em busca do equilíbrio emocional
mesmo que imperceptível
por detrás de tão pedagógico Caos!



( Antonio Luíz, in “ Poesia pragmática: poemas de Vidas” - a editar em 2010/11

escrito em 17-09-2010 )

terça-feira, 7 de setembro de 2010

À BEIRA DOURO

Gozo a esplanada do Freixo
onde sacio a fome e sede,
mesmo ao lado da ponte guardiã;
nela passam objectos móveis
carregados de desejos
e também de ilusões;
para lá da ponte
um sol portentoso
reflecte-se nas águas do rio
criando um foco de luz imensa:
- o Douro ilumina e aquece
este momento de fim de tarde
de uma terça-feira
após tarefa clínica em Resende,
curta mas prazenteira!
Passa um barco
lotado de viajantes,
dali a poucos minutos
apenas um ponto restará
lá longe, no fim do rio,
que o sol ferindo os olhos
mal permite vislumbrar...

...Nesta atraente esplanada
disfruto a música de fundo
que continua suave,
mas bem batida,
contràriamente a meu coração,
que vou sentindo tranquilo,
com batimentos bradicárdicos!
...Observo um yate imóvel
um pouco à minha direita,
mas que em nada me seduz;
...Sobre a mesa de tampo negro
contrastando o branco das cadeiras,
esvazio paulatinamente
um copo de cerveja,
a que hoje não soube resistir!...

(Antonio Luíz, "Poesia pragmática: poemas de Vidas",
a editar ainda este ano ( 07-09-2010).

terça-feira, 17 de agosto de 2010

ENQUANTO ALMOÇO ( na Pizza Hut )

Vejo pessoas passando,
umas próximas conversando
outras mais longe sorrindo,
a vida flui, a paz impera;
vejo pessoas com cores vestidas,
belas, por vezes garridas,
que a vida não é bicolor,
nem eu desejo que o seja!...
Vejo pessoas que dançam
aqui na rua à minha frente,
ao som de bombo africano
que tanto me diz e alegra;
vejo aqui ao meu lado
criança feliz e bendita
pedindo ao pai "cavalitas",
que me comove e enternece.
...........................................
Olho de novo a rua
vejo pessoas normais,
sempre passando, vivendo,
tocando-se, ou de mãos dadas!...
..........................................
Tenho saudades das tuas,
que me deram amor, ternura,
e que das minhas tanto precisam
P´ra saciar a desventura!

(Antonio Luíz, 07-08-2010)

ENCRUZILHADA DE TEMPOS

Viajo na estrada,
ao volante da subconsciência,
viajo no meu tempo,
entro no meu Eu,
num lamaçal que me não larga,
mas não me imobiliza;
Aos olhos enevoados
assumem frias lágrimas,
entrelaçam-se pensamentos...

...mas naquela tarde que disseste?
- Que bebi um trago a mais por estar feliz?
...não, é óbvio que não foi!
- Ou por ser distraído?
...quero aceitar que não, ou talvez!

Mas em consequência da "injúria"
o que fizemos um ao outro?
Criamos enorme distância
derrubamos nossos muros de veludo!

Mas o que deveríamos dizer
ou já ter dito um ao outro?
Que por força da incompreensão
e da marginalidade de alguns
poderíamos beber um copo a mais,
todos os dias,
e deixar-nos fluir na solidão?!
Mas não, isso não,
produziria estígmas, maus sinais,
corroeria nossas aparências,
e apesar de ser óbvio e humano
de forma lúcida rejeitamos...

...Sigo a doutrina pragmática
que em boa verdade ensina,
que mais vale "in concreto" ser
que por falsa verdade parecer,
e sobretudo quando amamos!

(Antonio Luíz, 05-08-2010)

TURBULENCIA EM FIM DE FÉRIAS

De súbito, quando menos se esperava,
ao cabo de férias solarentas,
instalaram-se penumbras e sombras,
dos olhos brotaram cascatas de água,
abateu-se o silêncio, a desilusão
sobre nossas vidas,
sobre um grandioso sonho,
que se gorou esfumando-se
como um enorme transatlântico
desaparecendo lá longe no horizonte!...

...Há um vácuo, um estridente vazio,
um espaço turbulento sem nada,
em nosso quarto ainda ferve amôr
apenas de outrora;
mas hoje vingam invernos gélidos
de saudades, e vigoram sonhos
de mágoas cataclísmicas que doem e ferem
como pesadelos!...

...O silêncio extingue-se na nossa mudez,
vai-nos separando por demais;
entre nós há farrapos de lembranças
que tentam reagrupar-se
procurando recriar correntes
de espesso fio, ou corda ou aço;
- mas que importa?
Vencerão esta chuva tão ácida?
Resistirão por absurdo ao tempo,
enquanto um disforme transatlântico
De novo regresse
Repleto de ilusões,
ou de novas promessas de amor
a qualquer hora da madrugada?...

...Assustam-me tamanhas incertezas!...

( Antonio Luíz, o4-08-2010 )

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

PENSAMENTOS FORÇADOS

I - Com decisão temporária:
" Autodemiti-me do amor,
porque há muito prometi fazer-te feliz,
e tu não o tens permitido".

II - Com decisão definitiva:
"Destruí em mim o amor,
porque acreditei que me farias feliz,
mas tu com ingénua teimosia
dilaceraste um coração por ti perdido".

III - Com ultradecisão (platónica):
"Apesar do amor ausente
serei à hora da morte um lutador,
invulgar combatente
para a génese de um amor eterno,
mas secretamente!"

(Antonio Luíz, 09-08-2010 -
in Poesia pragmática : poemas de Vidas , a publicar 2010).

BEBER ( ou porque bebo )

Bebo consciente,
p'ra me libertar da solidão,
aquela que paira dentro de mim;
Bebo p'ra me sentir feliz,
ou porque me encontro feliz;
.............................................
bebo porque sou livre,
e nunca p´ra me apoderar da liberdade!
.............................................
bebo p'ra compreender o ser humano
que tanto me desilude,
bebo p'ra sentir de forma efémera
que o mundo afinal é feliz
e que ele permite por instantes
que meus sonhos sejam viáveis!
..........................................
mas bebo porque sou livre
nunca p'ra me apoderar da liberdade!
..........................................
bebo p'ra fugir à rotina
que me desnorteia e trucida,
mas não bebo por paixão
ou sequer por dependência;
Bebo por lúcido desafio
P´ra sentir que vale a pena a Vida;
bebo p'ra sentir que há um amigo
ao dobrar de cada esquina,
bebo p'ra mitigar a tristeza
e compensar a incredulidade,
o desamor e a frustração!
..................................
Mas juro que acima de tudo
bebo porque sou livre,
não p'ra me apoderar da liberdade
nem viver o desvario
de uma qualquer perversa emoção...

(António Luíz, in Poesia pragmática / Poemas de Vidas
- próxima publicação )