quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CAOS



C A O S

( A propósito duma pintura de Raul Cardoso )




Em plataforma distal
deste intenso e sublime status,
existe hirto um vulto
estupefacto e passivo,
mantendo cordão umbilical
a tão possante mas aprazível
emaranhado de traços e cores;

Mas a harmonia cola-nos à tela....

Sigo linhas curvas e rectas,
espaços variegados com surdas vidas
aglomeradas, que gemem,
na lufa-lufa do ditame quotidiano,
espremidas na pressão dos desejos
e anseios em auto-desespero;
outros espaços não enxergo
mas sinto-os no âmago dos pincéis
e onde capto pensamentos velozes
em busca de libertação,
tentando a fuga às convulsões febris
de uma luta vital diária,
quantas vezes crispada e desumana,
que fatalmente nos distanciam
do humanismo e da glória,
mergulhando-nos
e sucumbindo-nos na auto-exortação
que tolamente nos empurra
para a vaidade e autodestruição!
Há quadrados triangulóides
e triângulos quase quadriformes,
mas também vejo formas losângicas
com cores de anjo, e também de luto!

Nesta amalgama de conflito e ilusão,
vejo barcos de rio, e talvez navios
a quererem in extremis cruzar
Louca e teimosamente
águas revoltas de outros mares.....

Fantasio aeronaves,
seguramente um dirigível
aguardando movimento proximal,
para fuga talvez tresloucada
a tão consciente imobilidade....
Não vislumbro traços de animais
ou sequer sinais divinos;

Quando o Caos assim nos domina,
temos ali as cores da esperança
e dum fluxo vivo e arrojado,
colorido de particulas de arco-íris
que se adivinha ou
se deseja ver nesta cativante tela
Que nos alimenta os sentidos
e nos afeiçoará às batalhas humanas,
em busca do equilíbrio emocional
mesmo que imperceptível
por detrás de tão pedagógico Caos!



( Antonio Luíz, in “ Poesia pragmática: poemas de Vidas” - a editar em 2010/11

escrito em 17-09-2010 )

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