terça-feira, 1 de setembro de 2009

LINDO DOURO, MÁS LEMBRANÇAS

Entardecer...
pôr-do-sol no Douro,
quão perfeito casamento
alicerçado em quietude,
beleza, e tanta harmonia,
apesar da aspereza d' escarpas,
de rochedos imponentes,
e frondosas clareiras a montante,
que vão escapando a tanto desacato
e ilicitudes ecológicas!

...Já ninguém se esforça em lembrar
que a juzante
célebre ponte tombou,
ruindo ao peso de crueis
e de tamanhas irresponsabilidades
de cariz humano,
que sobre ela não estavam
naquela noite fatídica,
de chuvoso e turbulento,
mas acima de tudo traiçoeiro inverno!

Sobre a ponte não se achavam
dispositivos mecânicos ou mãos assassinas,
e o lindo Douro não fez justiça,
antes acolheu desalmadamente
tantas Vidas ingénuas e inocentes!

Douro pérfido, Douro carrasco,
sentirás tu a grande culpa?
Ou surgirá um dia outro culpado?
É certo que más lembranças
perturbam tua paz e toda a harmonia
deste tão deslumbrante entardecer!

( António Luíz , Agosto-2009 . Durante viagem de regresso ao Porto,
entre Resende e Entre-os-Rios).

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

EU , O SOL E O MAR

Consomem-me as saudades
da alegria desmesurada,
de um sol risonho, de um sol-menino
do nascer ao pôr-do-sol;
de uma viagem aventureira
de reconhecimento do meu próprio eu,
fomentando a paz, a alegria , o amôr;
saudades de eu ser o sol,
sem esforço, sem transfiguração;
assim era o meu lugar,
e eu dele merecedor!
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É quase noite e janto à beira mar,
olho nele as águas fervorosas
ondulando, sussurando-me,
ali tão perto de mim...
Falam-me do meu presente?
oh!, sim... creio que sim!
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Lá longe o mar é doce,
tão tranquilo, que não se move,
um verdadeiro gritante espelho
que me toca,
que me espelha o meu passado
cheio de "luzes da ribalta" ;
chegam-me sons de melodias clássicas,
enfáticas e tão ternurentas;
o pôr do sol sacode-me deste geito,
penetra meu eu angustiado!
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Quero lá chegar,
mas tamanha é a distância
que eu temo não conseguir,
tenho pânico que no caminho
possa não saber nadar,
e ali me fique sem porvir!...


(António Luíz - VNGaia, 19-08-2009)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

DESCOMPRESSÃO

Procuro compensar a azáfama,

o bulício brutal vivido

com o pandemónio do stress laboral;

o polegar firme

e a polpa do indicador

pressorizam minhas têmporas,

deixo que o índex se estenda

por toda a minha fronte,

cotovelo esquerdo sobre a mesa,

rodo o pescoço

sinto-o estalar e ranger

provocando dor surda

por estiramento muscular;

sobrelevo os ombros

despertando dor aguda nos trapézios,

assim permaneço alguns segundos

aceitando dor crucial por intencional;

dentro em breve atingirei

tranquilo relaxamento funcional!

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Olhos ainda cerrados, visão dourada,

mar azul em ilha deserta;

a cabeça ainda lateja em torpôr,

mas é silenciada a ansiedade,

vai-se esbatendo a intolerância,

deixo escorrer a fadiga,

regressa o possível discernimento,

e os neurónios mostram-se felizes

por gradualmente poderem retomar

a fisiologia primária em suas sinapses!

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Olhos agora entreabertos,

tranquilo , e com alguma serenidade

introspectivamente assumo:

- terei por certo escapado ao infarto,

mas não ao absurdo stress profissional!

- Como se pode assim louvar o trabalho?

DESCOMPRESSÃO

domingo, 12 de julho de 2009

ANIVERSARIO

Sessenta anos;
sonhei festejá-los com a Amizade,
o companheirismo, a Felicidade,
mas não deu.
Aniversário (quase) solitário:
existo eu e os meus sonhos,
e tantos silêncios tristonhos,
mas conforto quanto basta
pela surpresa da Susi (!)

Sessenta anos;
recusei convívio de " amigos",
em festejos tradicionais,
não por estafado capricho ,
nem por simples teimosia,
mas apenas porque teimam
em não respeitar meu presente,
em não aceitar uma vida,
"Vida de paixão e tormento",
que só a mim me estrutura
e me diz absoluto respeito!

Sessenta anos;
apenas quiz mostrar a todos
com bom senso e galhardia,
que estou vivo, muito vivo,
cultivando a chama da alegria,
entre tantos desenganos...

António Luíz, 08-09-2008

terça-feira, 7 de julho de 2009

DO INICIO AO PRENUNCIO DO FIM

Um dia, subitamente,
como já não o visse há anos,
olhei o mar!
Vi-o sereno, tranquilo, condescendente,
e sobre ele uma brisa ténue e fugidia,
e nela dançavam radiosas borboletas,
felizes no seu vai-vém,
como se pincelassem rabiscos coloridos
em tela imaginária!...

Naquele mar eu vi ternura,
estremeci pleno de vida,
gritei pojante pela paixão,
e decidi aventurar-me numa viagem,
feita de embalo e regozijo,
pois por certo eu perderia
as garras de sangue da solidão!

Valeria sempre a pena humana aventura,
um tão fácil e imperdível navegar,
sobre um mar sereno, de paz onírica,
ja que impensável seria naufragar!...

Parti agarrado ao leme,
qual comandante eufórico e feliz,
mas a viagem não foi longa,
por absurda intempérie descomunal,
e a um porto vizinho tive que encostar,
dado o iminente risco de naufragar!...

Hoje há um cais de subtil amarração,
não vislumbro as dançarinas borboletas,
mantenho-me seguro em cais de abrigo,
esperando sonhador por nobre brisa,
que me alcandore e me submeta
às Leis da bela Natura,
mas também da confiança e do amor!


Antonio Luíz ( 07-07-2009) - VN Gaia

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tempo além do tempo

Quero tempo de viver,
preciso de tempo,
de muito mais tempo,
porque um dia saís-te de mim
e leváste-me o meu tempo.
Por distanciação no tempo
e sem vontade expressa,
apoderáste-te do meu tempo,
o tempo alegre,
o da compaixão,
o do convívio
e da compreensão!
Hoje vivo outro tempo:
o tempo do inconformismo,
e o tempo que gira
em meu redor,
que é o da incompreensão,
o da marginalisação,
um tempo sem clarificação
e sem qualquer temporalidade!

Eu, que até dominava o tempo,
perdi assim de repente
todo o meu querido tempo.

Pela paixão
recriei um outro tempo,
tempo de sentir,
tempo de amar e florescer,
mas ainda e sempre de saudade
por vezes de solidão:
- é o meu tempo moderno,
assaz emotivo,
também de compensação,
mas em simultâneo
um tempo gélido
por ser tempo de incompreensão,
tempo de descriminação,
que eu devo compreender,
mas que tanto afecta
meu tempo de viver!

Odeio agora o tempo,
aquele que eu não temia
o mesmo que eu dominava!

Agora fragmento o tempo
para o preencher e aceitar,
e juro que nunca
mas nunca
me deixarei por ele dizimar,
pois é um tempo que entristece
e por vezes me faz calar.

Refugio-me silenciosamente
no tempo dos meus silêncios,
deixando-me assim dominar;
assim controlo o meu tempo,
o tempo que me vai restando
mas que sempre me estimula
incentiva e agiganta
na procura de um novo tempo,
tempo de nova vida,
de afeição, e ternura,
tempo de concórdia familiar,
tempo de criatividade,
tempo de inovação de sentimentos,
tempo de humanismo
e de aproximação vital
entre todos os nossos tempos.

Suplico apenas,
mais tempo de viver,
um tempo de sublime vivência,
ou serei forçado a inventar
um pouco mais de tempo
além do meu actual
mas tão curto
e tumultuoso tempo!...

António Luíz ( 21-05-2009)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Nem sempre se tolera a Poesia

Afastei-me cabisbaixo da sala,
numa tarde tão serena de um Domingo;
Esmoreci no início de um serão
que poderia ter sido de ternura e poesia!

Mas havias desdenhado com alguma frialdade
ou , pelo menos, em atitude não gentil
não quiseste apreciar meus versos,
com humildade dedicados
a uma árvore , que simplesmente vive,
espetada à beira da auto-estrada!...

Saí da sala entristecido, magoado,
e naquele momento terminou o nosso serão!
Continuei preso à poesia naquela tarde...

Mas tu que te excedes em sonhos,
que pões cá fora emoções tão lindas,
ilusões, e tantas vezes tuas fantasias,
e que iludes a própria vida
sem medos e sem constrangimentos;

Tu que tens a Vida e a Paixão nas mãos,
e te tornas soberbamente única
conseguindo isolar-te (amando) no meio da multidão,
espalhando sensualidade a quem tanto amas,
- ? porque não gostas de poesia,
se toda tu, Mulher, és poesia!


( António Luíz , 15-03-2009 )